O Grupo do Bem Estar e da Felicidade, 13 anos de atuação transdisciplinar focadas na Síntese da Arte, Ciência, Cidadania e Espiritualidade, divulga o Relatório Mundial de Envelhecimento e Saúde 2015 da Organização Mundial de Saúde na esperança de contribuir para a conscientização da relevância de gestação e implantação efetivas de politicas públicas para o envelhecimento ativo e saudável no Brasil e no mundo.
foto:Grupo Do Bem Estar e da Felicidade no Terminal de ônibus Varginha periferia da zona sul de São Paulo, 2015
Relatório Mundial de Envelhecimento e Saúde 2015 da Organização Mundial de Saúde
Em uma época de desafos imprevisíveis para a
saúde, sejam devidos à mudanças climáticas, às
doenças infecciosas emergentes ou a próxima bactéria a desenvolver resistência aos medicamentos, uma
tendência é certa: o envelhecimento das populações
está se acelerando rapidamente em todo o mundo.
Pela primeira vez na história, a maioria das pessoas
pode esperar viver além dos 60 anos. As consequências
disso para a saúde, para os sistemas de saúde,
seus orçamentos e para os trabalhadores de saúde
serão profundas.
Assista o vídeo em que o especialista em envelhecimento Alexandre Kalache dá entrevista ao educador popular Daniel Aymoré Ferreira e explica os conceitos de envelhecimento ativo e gerontolescência:
O Relatório Mundial sobre Envelhecimento e
Saúde responde a esses desafios ao recomendar mudanças igualmente profundas
na maneira de formular políticas em saúde e prestar serviços de saúde às populações
que estão envelhecendo. O relatório baseia suas recomendações na análise
das mais recentes evidências a respeito do processo de envelhecimento, e observa
que muitas percepções e suposições comuns sobre as pessoas mais velhas são
baseadas em estereótipos ultrapassados.
Como mostra a evidência, a perda das habilidades comumente associada ao
envelhecimento na verdade está apenas vagamente relacionada com a idade cronológica
das pessoas. Não existe um idoso “típico”. A diversidade das capacidades
e necessidades de saúde dos adultos maiores não é aleatória, e sim advinda de
eventos que ocorrem ao longo de todo o curso da vida e frequentemente são modificáveis,
ressaltando a importância do enfoque de ciclo de vida para se entender
o processo de envelhecimento.
Embora a maior parte dos adultos maiores apresente
múltiplos problemas de saúde com o passar do tempo, a idade avançada não
implica em dependência. Além disso, ao contrário do que se pensa, o envelhecimento
tem muito menos influência nos gastos com atenção à saúde do que outros
fatores, inclusive os altos custos das novas tecnologias médicas.
Guiado por estas evidências, o relatório busca avançar o debate sobre a resposta
de saúde pública mais apropriada ao envelhecimento das populações em direção
a um território novo e muito mais amplo. A mensagem principal é otimista: na
vigência das políticas e serviços apropriados, o envelhecimento da população pode
ser considerado uma preciosa oportunidade tanto para os indivíduos como para organizações e sociedades.
Prefácio
O marco conceptual resultante apresentado no relatório tem como
objetivo guiar a implantação de medidas concretas de saúde pública e pode ser
adaptado para uso em países em todos os graus de desenvolvimento econômico.
Ao formular este marco conceptual, o relatório realça que o envelhecimento
saudável é mais que apenas a ausência de doença. Para a maioria dos adultos maiores,
a manutenção da abilidade funcional é mais importante. Os maiores custos à
sociedade não são os gastos realizados para promover esta abilidade funcional, mas
sim os benefícios que poderiam ser perdidos se não implementarmos as adaptações
e investimentos necessários. O enfoque social recomendado para abordar o envelhecimento
da população, que inclui a meta de construir um mundo favorável aos
adultos maiores, requer uma transformação dos sistemas de saúde que substitua os
modelos curativos baseados na doença pela prestação de atenção integrada e centrada
nas necessidades dos adultos maiores.
As recomendações do relatório são substanciadas pela evidência, abrangentes e
orientadas para o futuro, mas sumamente práticas.
Do princípio ao fim, o relatório
usa exemplos de experiências de diferentes países para ilustrar como problemas
específicos podem ser abordados através de soluções inovadoras. Os temas explorados
variam desde estratégias para prestar atenção integral e centrada nas pessoas,
às populações mais velhas, às políticas que permitam que os adultos maiores
vivam com conforto e segurança e às maneiras de corrigir os problemas e injustiças
inerentes aos sistemas atuais de atenção a longo prazo.
Na minha opinião, o Relatório Mundial sobre Envelhecimento e Saúde tem
potencial para transformar a maneira como os formuladores de políticas e prestadores
de serviço veem o envelhecimento da população—e ajudá-los a programar-se
para aproveitar este fenômeno ao máximo.
Dra. Margaret Chan
Diretora-geral
Organização Mundial da Saúde
Introdução
Hoje, pela primeira vez na história, a maioria das pessoas pode esperar viver até
os 60 anos e mais (1). Quando combinados com quedas acentuadas nas taxas de
fertilidade, esses aumentos na expectativa de vida levam ao rápido envelhecimento
das populações em todo o mundo.
Essas mudanças são dramáticas e as implicações são profundas. Uma criança
nascida no Brasil ou em Mianmar em 2015 pode esperar viver 20 anos mais que
uma criança nascida há 50 anos. Na República Islâmica do Irã, apenas 1 em cada 10
pessoas da população tem mais de 60 anos em 2015. Em apenas 35 anos, essa taxa
terá aumentado em torno de 1 a cada 3. E o ritmo de envelhecimento da população
é muito mais rápido que no passado.
Uma vida mais longa é um recurso incrivelmente valioso (2). Proporciona a
oportunidade de repensar não apenas no que a idade avançada pode ser, mas como
todas as nossas vidas podem se desdobrar. Por exemplo, em muitas partes do mundo,
o curso da vida é atualmente enquadrado em torno de um conjunto rígido de fases:
infância, fase de estudos, um período defnido de trabalho e, em seguida, aposentadoria.
foto: Expedição do Grupo do Bem Estar à Represa Billings, 2015/ARO
A partir dessa perspectiva, frequentemente se assume que os anos extras
são simplesmente adicionados ao fm da vida e permitem uma aposentadoria mais
longa. Entretanto, quanto mais pessoas chegam a idades mais avançadas, há evidências
de que muitas estão repensando este enquadramento rígido de suas vidas. Em
vez de passar anos extras de outras maneiras, as pessoas estão pensando em talvez
estudar mais, em ter uma nova carreira ou buscar uma paixão há muito negligenciada.
Além disso, conforme as pessoas mais jovens esperam viver mais tempo,
elas também podem realizar planejamentos diferentes, por exemplo, de iniciar suas
carreiras mais tarde e passar mais tempo no início da vida para criar uma família.
Contudo, a amplitude das oportunidades que surgem do aumento da longevidade
dependerá muito de um fator fundamental: saúde.
Se as pessoas vivem esses
anos extras de vida com boa saúde, sua capacidade de realizar as tarefas que valorizam
será um pouco diferente em relação a uma pessoa mais jovem. Se esses anos
a mais são dominados por declínios na capacidade física e mental, as implicações
para as pessoas mais velhas e para a sociedade é muito mais negativa.
Infelizmente, embora seja assumido muitas vezes que o aumento da longevidade
está sendo acompanhado por um período prolongado de boa saúde, existem poucas evidências sugerindo que os adultos maiores de hoje apresentam uma saúde
melhor do que os seus pais tinham com a mesma idade.
No entanto, a saúde precária não precisa dominar a idade mais avançada. A
maioria dos problemas de saúde enfrentados por pessoas mais velhas são associados a
condições crônicas, principalmente doenças não transmissíveis. Muitas delas podem
ser prevenidas ou retardadas envolvendo-se em comportamentos saudáveis.
Outros
problemas de saúde podem ser controlados de maneira eficaz, principalmente se
forem detectados cedo o suficiente. E mesmo para as pessoas com declínios na capacidade,
os ambientes de apoio podem garantir que elas vivam vidas dignas e com
crescimento pessoal contínuo. Entretanto, o mundo está muito longe desses ideais.
O envelhecimento da população, portanto, demanda uma resposta abrangente
da saúde pública.
Contudo, o debate tem sido insuficiente e as evidências, do que pode
ser feito, são limitadas (3, 4). Porém, isso não significa que nada pode ser feito. De fato,
a necessidade de ação é urgente. O presente relatório analisa detalhadamente o que
sabemos sobre saúde e envelhecimento e constrói um quadro estratégico para falar
sobre a ação pública, com um menu de próximos passos práticos que pode ser adaptado
para utilização em países de todos os níveis de desenvolvimento econômico.
Dessa maneira, o relatório aborda as mudanças associadas ao envelhecimento
no contexto de todo o curso da vida.
Mudança nas percepções de saúde e envelhecimento
Um dos desafios ao se desenvolver uma resposta ampla para o envelhecimento da
população é que muitas percepções e suposições comuns sobre pessoas mais velhas
são baseadas em estereótipos ultrapassados. Isso limita a nossa forma de conceituar os
problemas, as perguntas que fazemos e a nossa capacidade de aproveitar as oportunidades
inovadoras (5). As evidências sugerem que perspectivas atuais são necessárias.
Não há mais pessoa tipicamente velha. As populações mais maiores são caracterizadas por grande diversidade. Por exemplo,
alguns adultos maiores de 80 anos apresentam níveis de capacidade física e mental comparáveis
aos níveis de muitos jovens de 20 anos. As políticas devem ser estruturadas de
forma que permitam um maior número de pessoas alcançarem trajetórias positivas do
envelhecimento. E elas devem servir para quebrar as muitas barreiras que limitam a
participação social contínua e as contribuições de pessoas mais maiores. Porém, muitas
pessoas experimentarão declínios significativos de capacidade em idades muito mais
jovens. Por exemplo, algumas pessoas de 60 anos podem precisar de ajuda de outras
pessoas para realizar até as tarefas mais simples. Uma resposta abrangente da saúde
pública ao envelhecimento da população também deve abordar as suas necessidades.
Ativar as capacidades e atender às necessidades de tais populações diversas
pode resultar em políticas que parecem desconexas, e que podem até ser administradas por meio de esferas de governo diferentes e concorrentes. Contudo, as
diferentes necessidades de pessoas mais velhas são vistas como um funcionamento
contínuo.
foto: Grupo do Bem Estar e da Felicidade reivindica Parques Públicos, Ciclovias, Feiras Orgânicas e Consultas Médicas(de no mínimo) 30 minutos/2013/Diário de SP
Uma resposta política ampla deve ser capaz de reconciliar essas diferentes
ênfases em uma narrativa de envelhecimento coerente.
A diversidade na população de adultos idosos não é aleatória
Embora parte da diversidade observada em idade mais avançada refita a nossa
herança genética (6), a maior parte dela surge dos ambientes físicos e sociais que
habitamos. Esses ambientes incluem o nosso lar, a nossa vizinhança e a nossa
comunidade, que podem afetar diretamente a nossa saúde ou impor barreiras ou
incentivos que influenciam as nossas oportunidades, decisões e comportamentos.
Porém, o relacionamento que temos com os nossos ambientes varia de acordo
com muitas características pessoais, incluindo a família na qual nascemos, o nosso
gênero e a nossa etnia. As influências dos ambientes são muitas vezes fundamentalmente
enviesadas por essas características, levando as desigualdades na saúde, e
quando elas são injustas e evitáveis, às iniquidades na saúde (7). De fato, uma proporção
significativa da ampla diversidade da capacidade e circunstância que vemos
em idades mais avançadas, provavelmente, será apoiada pelo impacto cumulativo
dessas iniquidades na saúde em todo o curso da vida (8).
Essas tendências podem ser observadas na Fig. 1, que ilustra trajetórias da capacidade
física ao longo do curso da vida utilizando dados do Estudo Longitudinal Australiano
sobre a Saúde das Mulheres (9). Isso demonstra a ampla gama de capacidade física
(denotada pelas linhas escuras na parte superior e na parte inferior da figura) na idade
avançada. Porém, a figura também divide a coorte em quintis de adequação de renda.
Quanto mais alto o nível de adequação de renda, mais alto o pico no início da vida na
capacidade física média. E essa disparidade tende a persistir em todo o curso da vida.
Esses padrões possuem grandes implicações no desenvolvimento de políticas
uma vez que as pessoas com as maiores necessidades de saúde em qualquer ponto no
tempo também podem ser aquelas com menos recursos para tratá-los. As respostas da
política devem ser criadas de forma a superar, em vez de reforçar, essas iniquidades.
A idade avançada não implica dependência
Embora não existam pessoas maiores típicas, a sociedade geralmente as vê de
formas estereotipadas, que levam à discriminação contra indivíduos ou grupos
simplesmente com base em sua idade. Tal discriminação foi rotulada de discriminação
etária podendo ser uma forma ainda mais generalizada de discriminação,
do que o sexismo ou o racismo (10, 11). Um estereotipo de discriminação etária
generalizado de pessoas mais velhas é de que são dependentes ou um fardo. Isso
pode levar a uma suposição durante o desenvolvimento da política de que os gastos
com adultos maiores são simplesmente um dreno na economia e a uma ênfase na
contenção de custos.
As suposições de dependência baseadas na idade ignoram as muitas contribuições
das pessoas mais maiores para a economia. Por exemplo, uma pesquisa desenvolvida no Reino Unido em 2011 estimou que, após definir os custos das
pensões, bem-estar e cuidados com a saúde em relação às contribuições feitas por
meio de impostos, gastos de consumidores e outras atividades de valor econômico,
as pessoas mais maiores contribuíram com aproximadamente £40 milhões para a
sociedade, que subirá para £77 bilhões em 2030 (12).
Embora haja menos evidências de países de baixa e média renda, a contribuição
de pessoas mais velhas nesses cenários também é significativa.
No Quênia,
por exemplo, a idade média dos pequenos agricultores é de mais de 60 anos. Portanto,
as pessoas maiores podem ser críticas para manter a segurança dos alimentos
no Quênia e em outras partes da África Subsaariana (13). Elas também
possuem um papel crucial no apoio a outras gerações. Na Zâmbia, por exemplo,
cerca de 1/3 das mulheres maiores são as principais fornecedoras e prestadoras de
cuidados de netos cujos pais foram perdidos para a epidemia de HIV ou migraram
para trabalhar.
Além disso, em todos os cenários de recursos, as pessoas mais velhas contribuem
de muitas formas menos tangíveis economicamente, por exemplo, fornecendo
apoio emocional em momentos de estresse ou aconselhamento em problemas desafiadores.
A política deve ser moldada de forma a promover a capacidade dos adultos
maiores de realizar essas múltiplas contribuições.
Fig. 1. Capacidade funcional ao longo do curso da vida, por adequação de renda,
estratificada pela capacidade de gerenciar a renda atual Capacidade funcional
20 40 60 80 100
Idade (anos)
20
40
60
80
100
impossivel de efetuar
sempre difícil
às vezes difícil
não muito ruim
fácil
intervalo de capacidade funcional
Fonte: G Peeters, J Beard, D Deeg, L Tooth, WJ Brown, A Dobson; unpublished analysis from the Australian Longitudinal Study on
Women’s Health.
Capacidade funcional
20 40 60 80 100
Idade (anos)
20
40
60
80
100
impossivel de efetuar
sempre difícil
às vezes difícil
não muito ruim
fácil
intervalo de capacidade funcional
Saúde Pública
O envelhecimento da população aumentará os custos com
cuidados de saúde - porém não tanto quanto esperado
Outra suposição comumente feita é de que as crescentes necessidades de populações
maiores levarão a aumentos insustentáveis nos custos de saúde. Na realidade,
esse cenário não está muito claro.
Embora a idade avançada seja geralmente associada a aumento nas necessidades
relacionadas à saúde, a associação com a utilização de cuidados de saúde e das
despesas é variável (14–17). De fato, em alguns países de alta renda, as despesas de
saúde por pessoa caem signifcativamente após aproximadamente 75 anos de idade
(enquanto as despesas com cuidados de longo prazo aumentam) (18–20). Uma vez
que mais e mais pessoas estão chegando a idades mais avançadas, permitir que
elas levem uma vida longa e saudável pode, portanto, realmente aliviar as pressões
sobre a inflação nos gastos com saúde.
A associação entre idade e gastos com saúde também é fortemente influenciada
pelo próprio sistema de saúde (21). Isso provavelmente reflete diferenças em sistemas
de provedores, incentivos, abordagens de intervenções em adultos maiores
frágeis e normas culturais, principalmente próximo ao falecimento.
Na verdade, não importa quantos anos temos, o período de vida associado com
os maiores gastos de saúde está relacionado ao último ou dois últimos anos de vida
(22). Porém, essa relação também varia significativamente entre os países. Por exemplo,
cerca de 10% de todos os gastos com saúde na Austrália e nos Países Baixos, e
cerca de 22% nos Estados Unidos, são incorridos no cuidado de pessoas durante o
seu último ano de vida (23–25). Além disso, os últimos anos de vida tendem a resultar
em gastos mais baixos com saúde nos grupos de idades mais avançadas.
Embora mais evidências sejam necessárias, prever custos futuros de saúde com
base na estrutura etária da população é, portanto, um valor questionável. Isso é
reforçado por análises históricas que sugerem que o envelhecimento tem muito
menos influência sobre os gastos com saúde do que diversos outros fatores. Por
exemplo, entre 1940 e 1990 nos Estados Unidos (um período de envelhecimento
significativamente mais rápido da população já ocorrido), o envelhecimento parece
ter contribuído apenas cerca de 2% dos gastos com saúde, enquanto as mudanças
relacionadas à tecnologia foram responsáveis entre 38% e 65% de crescimento (19).
70 não é o novo 60 - mas poderia ser
Uma suposição que vai contra os equívocos negativos associados ao envelhecimento
é que as pessoas mais velhas, hoje, possuem saúde melhor em relação aos
seus pais ou avós. Isto é somado ao dizer que “70 é o novo 60”. Embora superficialmente
positiva essa suposição carrega um gosto amargo. Se hoje os adultos
idosos de 70 anos possuem a mesma saúde que os adultos maiores de 60 anos
do passado, pode-se concluir que os adultos idosos de 70 anos de hoje estão em
melhor posição para se defenderem sozinhos e, portanto, há menos necessidade de
ação política para ajudá-los.
Renda/Economia
Embora haja uma forte evidência de que os adultos idosos estão vivendo mais
tempo, principalmente em países de alta renda, a qualidade desses anos extras não é
clara (26). Os resultados de pesquisas são muito inconsistentes, tanto internamente
como entre os países (27–35). Além disso, as tendências dentro de diferentes subgrupos
de uma população podem ser muito distintas (36, 37).
Uma análise feita pela OMS de pessoas nascidas entre 1916 e 1958 que participam
de diversos estudos longitudinais sugeriu que mesmo que a prevalência de
deficiência grave (que exige ajuda de outra pessoa para realizar atividades simples,
como comer e tomar banho) pode ter diminuído, não há mudanças significativas
na prevalência de deficiência menos grave (38).
Além disso, independentemente do cenário, a pesquisa em geral considerou
apenas as perdas significativas de capacidade que ocorrem comumente durante os
últimos anos de vida. Uma vez que os declínios começam muito mais cedo, como a
renda de pessoas que ainda possuem 10 - 20 anos de vida é comparada à capacidade
de gerações anteriores permanece em grande parte desconhecida.
Embora 70 não aparente ser o novo 60, não há nenhum motivo por que isso
não possa se tornar uma realidade no futuro. Porém, torná-lo uma realidade exigirá
muito mais ações de saúde pública concentradas no envelhecimento.
Visão prospectiva, não retrospectiva. Outras grandes mudanças sociais estão ocorrendo junto com o envelhecimento
da população. Combinadas, a elas podem significar que envelhecer no futuro será
muito diferente das experiências de gerações anteriores.
Por exemplo, a urbanização e a globalização foram acompanhadas pelo aumento
da migração e desregulamentação dos mercados de trabalho (39, 40). Para os adultos
maiores com competências desejáveis e flexibilidade financeira, estas mudanças
criam novas oportunidades. Outros podem ver gerações mais novas migrando para
áreas de crescimento, enquanto são deixados em áreas rurais mais pobres, sem as
estruturas familiares e redes de segurança sociais às quais, tradicionalmente, poderiam
ter sido capazes de recorrer em busca de apoio.
As normas de gênero também estão mudando em várias partes do mundo.
No passado, o papel fundamental das mulheres era o de cuidadoras, tanto de
crianças como parentes mais velhos. Essa participação restritiva a força de trabalho
remunerada proporcionou consequências negativas a elas, incluindo maior
risco de pobreza, menos acesso aos serviços de saúde de alta qualidade e de assistência
social, maior risco de abuso, problemas de saúde e acesso reduzido às pensões.
Hoje, as mulheres estão cada vez mais desempenhando outras funções, que
as proporciona mais segurança em idades mais avançadas. Porém, essas mudanças
também limitam a capacidade das mulheres e famílias de fornecer cuidado para os
adultos maiores que precisam. Junto com os números rapidamente crescentes de
pessoas mais velhas que podem precisar cuidados, os modelos antigos de cuidados
à família simplesmente não são sustentáveis.
Tecnologia
A mudança tecnológica também está acompanhando o envelhecimento da
população e cria oportunidades nunca antes disponíveis. Por exemplo, a Internet
pode permitir conexão contínua para a família, apesar da distância, ou acesso
a informações que podem orientar o autocuidado de uma pessoa mais velha ou
prestar apoio aos cuidadores. Os recursos de apoio, como aparelhos de audição,
são mais funcionais e acessíveis do que no passado, e os dispositivos portáteis
fornecem novas oportunidades para o monitoramento e cuidados de saúde
personalizados.
Essas mudanças sociais e tecnológicas signifcam que as políticas não devem
ser orientadas por modelos sociais ultrapassados de envelhecimento, mas, ao vez
disso, devem aproveitar as oportunidades que as abordagens inovadoras proporcionam.
Igualmente, no entanto, o desenvolvimento de política com base no que
pode acontecer no futuro é provavelmente limitante, uma vez que é difícil para
nós imaginar mudanças futuras e seus impactos. Portanto, a abordagem adotada
por este relatório se concentra em construir as capacidades de adultos maiores
para lhes permitir navegar em seu mundo em transformação e inventar maneiras
novas, melhores e mais produtivas de se viver. Isto é consistente com o trabalho
em outras áreas políticas que tem como objetivo dar às pessoas a oportunidade
de alcançar as coisas que valorizam, em vez de se concentrar apenas na utilidade
econômica (41–43).
O gasto com populações mais velhas é
um investimento, não um custo
Os gastos em sistemas de saúde, cuidados de longo prazo e ambientes propícios
mais amplos são frequentemente retratados como custos. Este relatório assume
uma abordagem diferente. Essa abordagem considera os gastos como investimentos
que permitem a capacidade e, portanto, o bem estar das pessoas maiores.
Esses investimentos também ajudam as sociedades a atender suas obrigações relacionadas
aos direitos fundamentais das pessoas mais velhas. Em alguns casos, o
retorno sobre esses investimentos é direto (sistemas de saúde melhores conduzem
a uma melhor saúde, que permite maior participação e bem-estar). Outros retornos
podem ser menos óbvios, porém exigem o mesmo grau de consideração: por exemplo,
investimento em cuidado de longo prazo ajudará pessoas com perda significativa
de capacidade a manter vidas dignas e também pode permitir que as mulheres
permaneçam no mercado de trabalho, além de promover a coesão social por meio
do compartilhamento de riscos em uma comunidade.
Reformular a justificativa econômica para ação muda o debate do foco na minimização
para os chamados custos para uma análise que considera os benefícios
perdidos se as sociedades não conseguissem fazer as adaptações e os investimentos
adequados. Quantificar e considerar integralmente a extensão dos investimentos e
os dividendos que originarem será crucial se os tomadores de decisões moldarem
políticas verdadeiramente informadas.
Envelhecimento, saúde e funcionamento
O que é o envelhecimento?
As mudanças que constituem e influenciam o envelhecimento são complexas (44).
No nível biológico, o envelhecimento é associado ao acúmulo de uma grande variedade
de danos moleculares e celulares. Com o tempo, esse dano leva a uma perda
gradual nas reservas fisiológicas, um aumento do risco de contrair diversas doenças
e um declínio geral na capacidade intrínseca do indivíduo. Em última instância,
resulta no falecimento. Porém, essas mudanças não são lineares ou consistentes e
são apenas vagamente associadas à idade de uma pessoa em anos.
Além disso, a idade avançada frequentemente envolve mudanças significativas
além das perdas biológicas.Essas mudanças incluem mudanças nos papéis e
posições sociais, bem como na necessidade de lidar com perdas de relações próximas.
Em resposta, os adultos mais velhos tendem a selecionar metas e atividades em
menor número, porém mais significativas, otimizar suas capacidades existentes,
por meio de práticas e novas tecnologias, bem como compensar as perdas de algumas
habilidades encontrando outras maneiras de realizar tarefas (45).
Os objetivos,
as prioridades motivacionais e as preferências também parecem mudar (46–48).
Embora algumas dessas mudanças possam ser guiadas por uma adaptação à perda,
outras refetem o desenvolvimento psicológico contínuo na idade mais avançada,
que pode ser associado ao “desenvolvimento de novos papéis, pontos de vista e
muitos contextos sociais inter-relacionados” (45, 49). Essas mudanças psicossociais
podem explicar por que em muitos cenários, a idade avançada pode ser um período
de bem-estar subjetivo maior (50).
Ao desenvolver uma resposta de saúde pública ao envelhecimento é importante
não só considerar as abordagens que melhoram as perdas associadas à idade mais
avançada, porém também as perdas que podem reforçar a capacidade de resistência
e o crescimento psicossocial.
A saúde na população de adultos idosos
Aos 60 anos de idade, a deficiência e o falecimento resultam amplamente de perdas
de audição, visão e movimentos relacionados à idade, bem como doenças não transmissíveis,
incluindo doenças cardíacas, acidente vascular cerebral, doenças respiratórias
crônicas, câncer e demência. Esses problemas não são apenas para o mundo
rico. De fato, os encargos associados a muitas dessas condições em pessoas mais
maiores é muito maior em países de baixa e média renda.
No entanto, a presença dessas condições de saúde não diz nada sobre o impacto
que elas podem ter na vida de pessoas mais maiores. Por exemplo, apesar de ter uma
deficiência auditiva significativa, uma pessoa pode manter altos níveis de funcionamento
por meio de um aparelho auditivo. Além disso, é simplista considerar o
impacto de cada condição independente porque o envelhecimento também é associado
ao risco de sofrer mais do que uma condição crônica ao mesmo tempo (conhecida
como multimorbilidade). Por exemplo, na Alemanha, aproximadamente 1/4
13
Resumo
dos adultos maiores entre 70 e 85 anos de idade apresenta 5 ou mais doenças concomitantemente
(51). O impacto da multimorbilidade no funcionamento, utilização
de instalações de saúde e custos é muitas vezes significativamente maior do que
poderia ser esperado dos efeitos individuais dessas condições.
Além disso, outros estados de saúde ocorrem em idade mais avançada não
são captados por classificações de doenças tradicionais. Essas doenças podem ser
crônicas (por exemplo, fragilidade, que pode ter uma prevalência em torno de 10%
em pessoas com idade superior a 65 anos) ou agudas (por exemplo, delírio, que
pode resultar de várias determinantes tão distintas como uma infecção ou efeitos
colaterais de cirurgia).
Essa complexidade nos estados de saúde e funcional apresentada por pessoas
mais maiores levanta questões fundamentais sobre o que queremos dizer com
saúde em idade mais avançada, como a medimos e como podemos promovê-la.
São necessários novos conceitos definidos não apenas pela presença ou ausência
de doença, mas em termos do impacto que essas condições estão tendo sobre
o funcionamento e o bem-estar de uma pessoa maior. Avaliações abrangentes
desses estados de saúde são preditores significativamente melhores de sobrevida
e outros resultados além da presença de doenças individuais ou mesmo o grau
de comorbidades (52).
Envelhecimento Saudável
Para enquadrar como a saúde e o funcionamento podem ser considerados na idade
mais avançada, este relatório define e diferencia dois conceitos importantes. O primeiro
é a capacidade intrínseca, que se refere ao composto de todas as capacidades
físicas e mentais que um indivíduo pode apoiar-se em qualquer ponto no tempo.
Entretanto, a capacidade intrínseca é apenas um dos fatores que irão determinar
o que uma pessoa mais velha pode fazer. O outro são os ambientes nos quais
vivem e suas interações neles. Esses ambientes fornecem uma gama de recursos ou
barreiras que decidirão se pessoas com um determinado nível de capacidade pode
fazer as coisas que consideram importantes. Portanto, embora pessoas idosas possam ter a capacidade limitada, elas ainda podem ser capazes de comprar
se tiverem acesso a medicamentos anti-infamatórios, um recurso de apoio (como
muleta, cadeira de rodas ou scooter) e viverem próximas a transportes acessíveis.
Essa combinação de indivíduos e seus ambientes e a interação entre eles é a sua
capacidade funcional, definida pelo relatório como atributos relacionados à saúde
que permitem que as pessoas sejam ou façam o que com motivo valorizam.
Com base nestes dois conceitos, este relatório define o Envelhecimento Saudável como o processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional
que permite o bem-estar em idade avançada.
Central a esta conceituação do Envelhecimento Saudável é uma compreensão
de que nem a capacidade intrínseca, nem a capacidade funcional permanecem
constantes. Embora ambas tendam a diminuir com o aumento da idade, as escolhas
de vida ou as intervenções em diferentes momentos durante o curso da vida
irão determinar o caminho - ou trajetória - de cada indivíduo.
O Envelhecimento Saudável, portanto, não é definido por um nível ou limiar
específico do funcionamento ou da saúde. Em vez disso, é um processo que permanece
relevante a cada adulto maior, uma vez que sua experiência de Envelhecimento
Saudável pode sempre se tornar mais ou menos positiva. Por exemplo, a
trajetória do Envelhecimento Saudável de pessoas com demência ou doença cardíaca
avançada pode melhorar se elas tiverem acesso a cuidados de saúde acessíveis
que otimizem a sua capacidade e se essas vivem em um ambiente de apoio.
Um quadro de saúde pública para
o Envelhecimento Saudável
Uma ação de saúde pública abrangente relacionada ao envelhecimento é uma
necessidade urgente. Embora existam grandes lacunas de conhecimento, temos
evidências suficientes para agir agora e há algo que todos os países podem fazer,
independente de sua situação atual ou nível de desenvolvimento.
Diversos pontos de entrada podem ser identificados para intervenções, a fim
de promover o Envelhecimento Saudável, porém todos terão um objetivo: maximizar
a capacidade funcional. Isso pode ser alcançado de duas formas: construindo
e mantendo capacidade intrínseca e permitindo que alguém com uma diminuição
da capacidade funcional faça coisas importantes para ele(a).
As principais oportunidades para realizar ações visando otimizar as trajetórias
da capacidade funcional e da capacidade intrínseca ao longo do curso da vida são
apresentadas na Fig. 2. A fgura identifca três subpopulações diferentes de pessoas
mais velhas: aquelas com capacidade relativamente alta e estável, aquelas com
declínio na capacidade e aquelas com perdas signifcativas da capacidade. Esses
subgrupos não são rígidos nem cobrem o curso da vida de cada pessoa mais maior.
Entretanto, se as necessidades desses subgrupos forem atendidas, a maioria das
pessoas mais maiores terá sua capacidade funcional aumentada. Quatro áreas prioritárias
de ação podem ajudar a alcançar esse objetivo:
1. alinhar os sistemas de saúde a populações mais maiores que agora atendem;
2. desenvolver sistemas de cuidados de longo prazo;
3. criar ambientes favoráveis aos adultos maiores;
4. melhorar a medição, o monitoramento e a compreensão.
Embora cada país tenha modos diferentes de preparação para agir, diversas abordagens
com provável efciência podem ser feitas em cada uma dessas áreas. O que
precisamente deve ser feito e em qual ordem dependerá muito do contexto nacional.
Alinhar os sistemas de saúde às necessidades das
populações maiores que atendem nesse momento
Conforme as pessoas envelhecem, suas necessidades de saúde tendem a se tornar
mais crônicas e complexas. Os cuidados de saúde que abrangem essas demandas
multidimensionais da idade avançada de maneira integrada se demonstraram mais eficazes que os serviços que simplesmente reagem independentemente a doenças
específicas (53–55). No entanto, pessoas mais maiores muitas vezes encontram serviços
que foram feitos para curar condições ou sintomas agudos, que controlam
problemas de saúde de maneiras desconexas e desfragmentadas, e que carecem de
coordenação entre os profissionais da saúde, configurações e tempo. Isso resulta em
cuidados de saúde que não só deixam de atender adequadamente às necessidades
de pessoas idosas, porém que podem apresentar grandes custos não só para os
adultos maiores como para o sistema de saúde.
Portanto, promover o Envelhecimento Saudável não é simplesmente fazer mais
do que já vem sendo feito. Em vez disso, sistemas de saúde precisam ser desenvolvidos
para poder garantir acesso aos serviços integral centrados nas necessidades dos
adultos idosos. Estes demonstraram ter melhores resultados para adultos idosos e não são mais caros do que os serviços adicionais. Embora esses sistemas compartilhem
um enfoque multissetorial na construção e manutenção da capacidade
funcional de populações idosas, a principal contribuição dos serviços de saúde
em alcançá-los será por meio da maximização da capacidade intrínseca.
Um quadro de saúde pública para o Envelhecimento Saudável:
oportunidades para
ação de saúde pública durante o curso da vida
Capacidade alta e estável Capacidade em declínio Perda significativa
da capacidade
Serviços de saúde: Prevenir doenças crônicas ou
garantir detecção e controle
precoce
Reverter ou diminuir os
declínios da capacidade
Gerenciar doenças
crônicas avançadas
Ambientes: Eliminar barreiras à
participação, compensar a perda de capacidade
Promover comportamentos que melhorem
a capacidade
Cuidados de longo prazo: Garantir
uma vida digna
na idade avançada
Incentivar comportamentos
que melhorem a
capacidade Habilidade
funcional
Capacidade
intrínseca Realizar essa transição pode ser particularmente desafiador para países de baixa e
média renda e nos cenários mais pobres ao redor do mundo. Nesses cenários de recursos
limitados, os blocos de construção básicos de sistemas de saúde muitas vezes estão
ausentes. Porém, isso oferece uma oportunidade de desenvolver novas abordagens que
podem entregar cuidados centrados e integral para adultos maiores, atendendo simultaneamente
às necessidades de cuidado agudo, que continuam a ser importantes em jovens.
Essas abordagens-chave ajudarão a alinhar os sistemas de saúde às necessidades
das populações idosas:
1. Desenvolvendo e garantindo o acesso a serviços que proporcionam cuidados
centrados e integral para os adultos idosos;
2. Orientando sistemas em torno de capacidades intrínsecas;
3. Garantindo a existência de uma força de trabalho de saúde sustentável e adequadamente
treinada.
Serviços que proporcionam cuidados centrados
e integral para pessoas idosas; Fornecer cuidados centrados para adultos idosos e garantir acesso a eles requer
que os sistemas estejam organizados em torno das necessidades e preferências dessa
população e exigirá que os serviços sejam favoráveis à idade e intimamente envolvidos
com as famílias e comunidades. Será necessária uma integração entre os níveis
e serviços, bem como entre cuidados de saúde e cuidados de longa duração.
As
principais ações que podem ajudar a alcançar esse objetivo incluem:
■ Garantir que todos os adultos maiores recebam uma avaliação abrangente
e tenham um plano de cuidados único em todo o serviço visando otimizar
sua capacidade;
■ Desenvolver serviços localizados o mais próximo possível do local onde os
adultos maiores vivem, incluindo a entrega de serviços em seus lares e fornecer
cuidados baseados na comunidade;
■ Criar estruturas de serviços que promovam cuidados por equipes
multidisciplinares;
■ Apoiar os adultos maiores no autocuidado fornecendo apoio dos colegas,
treinamento, informações e aconselhamento;
■ Garantir a disponibilidade de medicamentos, vacinas e tecnologias necessárias para otimizar sua capacidade.
Sistemas orientados em torno da capacidade intrínseca
Mudar a orientação dos sistemas a fim de que visem a capacidade intrínseca, exigirá
modificar as informações de saúde e administrativas que coletam, a forma que
monitoram o desempenho, os mecanismos de financiamento e os incentivos que
utilizam, bem como o treinamento que oferecem. Diversas ações devem auxiliar
essa transformação:
■ Adaptar os sistemas de informação para coletar, analisar e relatar dados sobre
a capacidade intrínseca;
■ Adaptar o monitoramento de desempenho, recompensas e mecanismos de
financiamento para incentivar o cuidado que otimiza a capacidade; ■ Criar diretrizes clínicas para otimizar as trajetórias da capacidade intrínseca
e atualizar diretrizes existentes de forma que seu impacto sobre a
capacidade seja claro.
Força de trabalho de saúde sustentável e adequadamente treinada
Esses novos sistemas exigirão que todos os profissionais de saúde tenham habilidades
gerontológica e geriátrica básicas, bem como as competências gerais necessárias para trabalhar com sistemas de saúde integral, incluindo sistemas relacionados
à comunicação, trabalho em equipe, tecnologias de informação e comunicação.
Porém, as estratégias não devem ser limitadas às delineações atuais da força de
trabalho. As principais ações que podem ser tomadas incluem:
■ Fornecer treinamento básico sobre questões geriátricas e gerontológicas
durante o treinamento antes do serviço e em cursos de desenvolvimento
profissional continuado para todos os profissionais da saúde;
■ Incluir competências geriátricas e gerontológicas fundamentais em todos os
currículos de saúde;
■ Garantir que o fornecimento de geriatras atenda às necessidades da população
e incentivar o desenvolvimento de unidades geriátricas para a gestão de
casos complexos;
■ Considerar a necessidade de novos quadros de funcionários (como coordenadores
de saúde e conselheiros de autogestão) e ampliar as funções dos funcionários
existentes, como agentes comunitários de saúde, a fim de coordenar os
cuidados de saúde de adultos idosos no nível da comunidade.
Desenvolver sistemas para fornecer cuidados de longo prazo
No século XXI, não há nenhum país que não possa bancar um sistema abrangente
de cuidados de longa duração. O objetivo central desses sistemas deve ser manter um
nível de capacidade funcional em adultos maiores que possuem ou apresentam alto
risco de perdas significativas da capacidade, bem como garantir que esse cuidado seja
consistente com seus direitos básicos, liberdades fundamentais e dignidade humana.
Isso exigirá reconhecer suas aspirações contínuas com o bem-estar e o respeito.
Os sistemas de cuidados de longa duração possuem muitos benefícios potenciais
além de permitir que pessoas idosas, que dependam de cuidados, vivam
vidas dignas. Estes incluem reduzir o uso inadequado de sistemas de cuidados
agudos, ajudar as famílias a evitarem gastos exorbitantes com saúde e permitir
que as mulheres tenham papéis sociais mais amplos. Ao compartilhar os riscos e
encargos associados à dependência de cuidados, os sistemas de cuidados de longa
duração podem, assim, contribuir para a coesão social.
Em países de alta renda, os desafios para a construção de sistemas abrangentes
provavelmente giram em torno da necessidade de melhorar a qualidade dos cuidados
de longa duração, desenvolver formas financeiramente sustentáveis de proporcioná-los
a todos os que precisam, e melhor integrá-los aos sistemas de saúde.
Em países de baixa e alta renda, o desafio pode ser o de construir um sistema que
ainda não exista. Nesses cenários, a responsabilidade do cuidado de longo prazo, muitas vezes tem sido deixada inteiramente às famílias. O desenvolvimento socioeconômico,
o envelhecimento da população e as mudanças nos papéis das mulheres
significam que essa prática já não é mais sustentável ou equitativa.
Apenas os governos podem criar e supervisionar esses sistemas. Porém, isso não
significa que o cuidado de longo prazo seja de responsabilidade exclusiva dos governos.
Em vez disso, os sistemas de cuidados de longo prazo devem ser baseados em parcerias
explícitas com famílias, comunidades, outros profissionais da saúde e o setor
privado, e devem refletir as preocupações e perspectivas dessas partes interessadas.
O papel do governo (geralmente implementado por meio do Ministério da Saúde)
será o de organizar essa parceria, treinar e prestar suporte aos cuidadores, garantir
que a integração ocorra em vários serviços (incluindo com o setor de saúde), garantir
a qualidade dos serviços e prestar serviços diretamente para aqueles que mais precisam
(devido à sua capacidade intrínseca baixa ou seu status socioeconômico). Isso
pode ser alcançado até mesmo em países com sérias limitações de recursos.
O relatório identifica três abordagens que serão cruciais para o desenvolvimento
de sistemas de cuidados de longo prazo.
São elas:
1. Estabelecer as bases necessárias para um sistema de cuidados de longo prazo;
2. Construir e manter uma força de trabalho sustentável e adequadamente treinada;
3. Garantir a qualidade dos cuidados de longo prazo.
Bases necessárias para um sistema de cuidados de longo prazo
Os sistemas de cuidados de longo prazo requerem uma estrutura de governança que
pode guiar e supervisionar o desenvolvimento e atribuir responsabilidades para
o avanço. Isso pode ajudar a definir os principais serviços e funções necessários,
as barreiras que podem existir, quem é mais adequado para entregar os serviços
e quem melhor pode preencher outras funções, como a formação e a acreditação.
Deve-se focar principalmente no desenvolvimento do sistema de maneira que
ajudem os adultos maiores a envelhecer em lugares adequados para eles e a manter
vínculos com sua comunidade e redes sociais. Garantir o acesso a esse cuidado
enquanto reduz o risco de que os beneficiários ou seus cuidadores tenham dificuldades
financeiras exigirá recursos adequados e um compromisso com a priorização
do apoio para aqueles com maiores necessidades de saúde e financeira. As principais
ações que podem ser tomadas incluem:
■ Reconhecer o cuidado de longo prazo como um importante bem público;
■ Atribuir uma clara responsabilidade com o desenvolvimento de um sistema
de cuidados de longo prazo e planejamento de como isso será alcançado;
■ Criar mecanismos equitativos e sustentáveis para financiar os cuidados;
■ Definir o papel do governo e desenvolver os serviços necessários para
desempenhá-lo.
Força de trabalho de saúde sustentável e adequadamente treinada
Desenvolver a força de trabalho necessária para esses novos sistemas exigirá diversas
ações. Muitas dessas delineadas em relação a sistemas de saúde também serão
relevantes a cuidadores pagos de longo prazo. Porém, uma vez que o campo de cuidado de longo prazo é desvalorizado, uma estratégia adicional crucial deverá ser
elaborada para garantir que cuidadores pagos de longo prazo recebam o status e o
reconhecimento que suas contribuições merecem.
Além disso, ao contrário do que acontece no sistema de saúde, a maior parte
dos cuidadores no sistema de cuidados de longo prazo são atualmente membros
da família, voluntários, membros de organizações comunitárias e trabalhadores
pagos, porém sem formação. A maioria é composta por mulheres. Fornecer
a formação que lhes permita desempenhar bem o seu trabalho, enquanto alivia o
estresse que surge por serem insuficientemente informados sobre como lidar com
situações desafiadoras, será fundamental para a construção de um sistema de cuidados
de longa duração. As principais ações a serem tomadas incluem:
■ Melhorar os salários e as condições de trabalho dos cuidadores pagos de
longo prazo e criar planos de carreira que lhes permitam passar para cargos
com maiores responsabilidades e alta remuneração;
■ Promulgar legislação que apoie acordos de trabalho flexíveis ou licenças para
cuidadores familiares;
■ Estabelecer mecanismos de suporte para cuidadores, como oferecer cuidados
de repouso e recursos de formação ou de informação acessíveis;
■ Conscientizar sobre o valor e as recompensas da prestação de cuidados, e
lutar contra normas e papéis que impedem que homens e jovens atuem como
cuidadores sociais;
■ Apoiar as iniciativas da comunidade que aproximam os adultos idosos para
agir como um recurso para a prestação de cuidados e outras atividades de
desenvolvimento comunitário. Existem grandes exemplos em países de baixa
e média renda, nos quais voluntários adultos maiores foram capacitados por
meio de associações de adultos idosos para defender os seus direitos e prestar
cuidados e apoio aos colegas que necessitavam. Esses conceitos podem ser
transferíveis a cenários de renda mais alta.
Cuidados de longo prazo de qualidade
O primeiro passo para garantir a qualidade em cuidados de longo prazo será o de orientar
os serviços em direção aos objetivos de otimizar a capacidade funcional. Isso exige que os
sistemas e cuidadores vejam como podem otimizar a trajetória da capacidade dos adultos
idosos e compensar a perda da capacidade por meio da prestação de cuidados e transformando
os ambientes que podem ajudar o adulto maior a manter a capacidade funcional
a um nível que garanta o bem-estar. As principais ações a serem tomadas incluem:
■ Desenvolver e divulgar protocolos ou diretrizes de cuidados que abordem os
principais problemas;
■ Estabelecer mecanismos de credenciamento para serviços e cuidadores
profissionais;
■ Estabelecer mecanismos formais para coordenar o cuidado (incluindo entre
serviços de cuidados de longo prazo e cuidados de saúde);
■ Estabelecer sistemas de gestão de qualidade, a fim de ajudar a garantir que o
foco na otimização da capacidade funcional seja mantido.
Criando ambientes favoráveis à população de adultos idosos
Este relatório adota o quadro da Classificação de funcionamento, deficiência e saúde
internacional considerando que os ambientes incluam todo o contexto no qual vivemos
(56). Isso inclui transporte, habitação, trabalho, proteção social, informação e
comunicação, bem como serviços de saúde e cuidados de longo prazo, embora estes
sejam tratados com mais detalhes separadamente no relatório. O quadro de saúde
pública para o Envelhecimento Saudável identifica um objetivo comum para todas
partes interessadas: otimizar a capacidade funcional. O relatório explora como isso
pode ser alcançado em cinco domínios fortemente interconectados de capacidade
funcional, essenciais para permitir que os adultos maiores realizem as tarefas que
valorizam, Estas são as habilidades para:
■ Atender às suas necessidades básicas;
■ Aprender, crescer e tomar decisões;
■ Movimentarem-se;
■ Construir e manter relacionamentos; e
■ Contribuir.
Juntas, essas habilidades permitem que os adultos maiores envelheçam de forma
segura em um lugar adequado para eles, a fim de continuar a desenvolver-se pessoalmente,
contribuir para as suas comunidades e manter a sua autonomia e saúde.
As ações necessárias para promover essas habilidades tomam muitas formas,
porém operam de duas maneiras fundamentais. A primeira é por meio da construção
e manutenção da capacidade intrínseca, tanto reduzindo riscos (como altos
níveis de poluição no ar), incentivando comportamentos saudáveis (como atividades
físicas) ou removendo barreiras (por exemplo, altos índices de criminalidade
ou tráfego perigoso); ou prestando serviços que promovam a capacidade (como
cuidados com a saúde). A segunda é a de permitir maior capacidade funcional
em alguém com um determinado nível de capacidade. Em outras palavras, preenchendo
a lacuna entre o que as pessoas podem fazer devido a seu nível de capacidade
e o que poderiam fazer se vivessem em um ambiente favorável (por exemplo,
fornecendo tecnologias de apoio adequadas, fornecendo transporte público acessível ou desenvolvendo vizinhanças mais seguras). Embora as intervenções de nível
populacional possam melhorar os ambientes para muitas pessoas idosas em
ambas as formas, muitas não serão capazes de serem totalmente beneficiadas sem
apoio individualizado.
Uma vez que muitos setores e atores podem influenciar o Envelhecimento Saudável,
uma abordagem coordenada para a política e a prática, que coloca as necessidades
e as aspirações das pessoas idosas em seu centro, será crucial. Este
relatório identifica três abordagens que atravessam quase todos os setores como
prioridades para a implementação. São elas:
1. Combater a discriminação etária;
2. Permitir a autonomia;
3. Apoiar o Envelhecimento Saudável em todas as políticas e em todos os
níveis de governo.
21
Resumo
Combatendo a discriminação etária
Os estereótipos baseados em idade influenciam comportamentos, o desenvolvimento
da política e até mesmo a pesquisa. Abordá-los ao combater a discriminação
etária deve estar no cerne de qualquer resposta de saúde pública ao envelhecimento
da população. Embora seja desafiador, as experiências do combate a outras formas
de discriminação generalizada, como o sexismo e o racismo, mostram que as atitudes
e as normas podem ser alteradas.
Combater a discriminação etária exigirá a criação, e a incorporação no pensamento
de todas as gerações, de uma nova compreensão de envelhecimento. Isso não
pode ser baseado em conceitos ultrapassados de que os adultos maiores são um fardo
ou em suposições irrealistas de que os adultos idosos hoje evitaram, de alguma forma,
os problemas de saúde de seus pais e avós. Em vez disso, demanda uma aceitação da
ampla diversidade da experiência da idade avançada, um reconhecimento das injustiças
que estão muitas vezes subjacentes e uma abertura para perguntar como as coisas
podem ser feitas de maneira melhor. As principais ações a serem tomadas incluem:
■ Realizar campanhas de comunicação para aumentar o conhecimento e a compreensão
de envelhecimento entre os meios de comunicação, o público em geral,
os tomadores de decisões políticas, os funcionários e os prestadores de serviços;
■ Promulgar legislações contra discriminação baseada na idade;
■ Garantir que uma visão equilibrada do envelhecimento seja apresentada nos
meios de comunicação, por exemplo, minimizando o relato sensacionalista
de crimes contra pessoas maiores.
Autonomia
A segunda prioridade transversal é permitir a autonomia. A autonomia depende
fortemente do atendimento das necessidades básicas de um adulto maior e, por sua
vez, possui grande influência sobre a dignidade, integridade, liberdade e independência
dos adultos maiores e tem sido repetidamente identificada como um componente
central de seu bem-estar geral.
As pessoas idosas têm o direito de fazer escolhas e assumir o controle de uma
série de questões, incluindo onde vivem, os relacionamentos que têm, o que vestem,
como passam seu tempo e se submetem-se a tratamento ou não. O potencial de
escolha e controle é moldado por muitos fatores, incluindo a capacidade intrínseca
dos adultos idosos, os ambientes em que vivem, os recursos pessoais e financeiros
que podem levar em consideração e as oportunidades disponíveis para eles.
Uma ação-chave para permitir a autonomia será maximizando a capacidade
intrínseca, que é amplamente discutida nas estratégias relacionadas aos sistemas
de saúde. Porém, a autonomia pode ser reforçada, independente do nível de capacidade
do adulto maior. As ações que podem ajudar a alcançar esse objetivo incluem:
■ Promulgar legislações que protejam os direitos dos adultos maiores (por exemplo,
protegendo-os do abuso), apoiar os adultos maiores na conscientização e
desfrute de seus direitos, e criar mecanismos que podem ser utilizados para
abordar as violações dos seus direitos, inclusive em situações de emergência;
■ Prestar serviços que facilitem o funcionamento, como tecnologias de apoio e
serviços baseados na comunidade ou em casa; ■ Fornecer mecanismos para planejamento avançado de cuidados e tomada
de decisões apoiadas que permitam aos adultos maiores manter o nível de
controle sobre suas vidas, apesar da perda significativa de capacidade;
■ Criar oportunidades acessíveis para aprendizado e crescimento ao longo da vida.
Envelhecimento Saudável em todas as políticas
e em todos os níveis de governo
Em um número cada vez maior de países, mais de 1 em cada 5 pessoas têm mais de
60 anos. Poucas políticas ou serviços não irão afetá-los de alguma forma. Incluir
o Envelhecimento Saudável em todas as políticas e em todos os níveis de governo
será, portanto, crucial. Estratégias e planos de ação nacionais, regionais, estaduais
ou municipais de envelhecimento podem ajudar a orientar essa reposta intersetorial,
bem como assegurar uma resposta coordenada abrangendo diversos setores
e níveis de governo. Essas estratégias e planos devem estabelecer compromissos
claros com os objetivos e linhas claras de responsabilidade, ter orçamentos adequados
e especificar mecanismos para coordenação, monitoramento, avaliação e
relatório entre os setores. A coleta e a utilização de informações desagregadas por
idade sobre as capacidades dos adultos maiores também serão importantes. Isso
pode facilitar as análises de eficácia e lacunas em políticas, sistemas e serviços
existentes. Além disso, os mecanismos para consultar e envolver adultos maiores
ou organizações de adultos maiores no desenvolvimento e avaliação de políticas
pode ajudar a garantir sua relevância para populações locais. Entretanto, existem
diversas outras áreas de ação, incluindo:
■ Estabelecer políticas e programas que ampliem as opções de habitação para
adultos maiores e auxiliem com modificações no lar que permitam aos adultos
maiores envelhecerem em um local adequado;
■ Introduzir medidas para garantir que os adultos maiores sejam protegidos
contra a pobreza, por exemplo, por meio de esquemas de proteção social;
■ Fornecer oportunidades de participação social e de desempenhar papéis
sociais significativos, visando especificamente os processos marginalizam e
isolam os adultos maiores;
■ Remover barreiras, estabelecer normas de acessibilidade e garantir a conformidade
em edifícios, transporte e tecnologias de informação e comunicação;
■ Considerar o planejamento urbano e as decisões de utilização da terra e seu
impacto sobre a segurança e a mobilidade das pessoas maiores;
■ Promover a diversidade da idade e inclusão em ambientes de trabalho.
Melhorar a medição, o monitoramento e a compreensão
Fazer progressos com o Envelhecimento Saudável exigirá uma compreensão muito
melhor de questões e tendências relacionadas à idade. Muitas questões básicas permanecem
sem respostas.
■ Quais são os padrões atuais do Envelhecimento Saudável? Eles estão mudando
ao longo do tempo?
■ Quais são os determinantes do Envelhecimento Saudável?
23
Resumo
■ As desigualdades estão aumentando ou diminuindo?
■ Quais intervenções trabalham para promover o Envelhecimento Saudável e
em quais subgrupos da população elas trabalham?
■ Qual é o prazo e a sequência adequada dessas intervenções?
■ Quais são as necessidades de cuidados de saúde e cuidados de longo prazo
entre adultos maiores e quão bem elas estão sendo atendidas?
■ Quais são as reais contribuições econômicas feitas pelos adultos maiores e os
verdadeiros custos e benefícios de promover o Envelhecimento Saudável?
Como um primeiro passo para respondê-las, os adultos maiores terão que ser
incluídos nas estatísticas vitais e em pesquisas na população geral, e as análises
desses recursos de informação devem ser desagregadas por idade e sexo. Medidas
adequadas de Envelhecimento Saudável e seus determinantes e distribuições
também devem ser incluídas nesses estudos.
Porém, também devem ser promovidas pesquisas em uma gama de setores
específicos relacionados ao envelhecimento e saúde, o que exigirá um acordo sobre
os principais conceitos e como eles podem ser medidos. Abordagens, como estudos
plurinacionais e multidisciplinares devem ser incentivadas, uma vez que podem
representar a diversidade de uma população e investigar os determinantes do
Envelhecimento Saudável e os diferentes contextos dos adultos maiores. Portanto,
também deve haver envolvimento e contribuição dos adultos idosos, uma vez que
pode levar a resultados mais relevantes e inovadores. Então, conforme conhecimentos
novos e mais relevantes sobre o envelhecimento e a saúde são gerados, serão
necessários mecanismos globais e locais para assegurar a sua tradução rápida em
prática clínica, intervenções de saúde pública baseadas na população ou políticas
de saúde e políticas sociais.
Três abordagens serão cruciais pra melhorar a medição, o monitoramento e a
compreensão. São elas:
1. Acordo sobre métricas, medidas e abordagens analíticas para o Envelhecimento
Saudável;
2. Melhorar a compreensão do status de saúde e necessidades de populações
mais maiores e quão bem as suas necessidades estão sendo atendidas;
3. Aumentar a compreensão das trajetórias do Envelhecimento Saudável e o que
pode ser feito para melhorá-las.
Métricas, medidas e abordagens analíticas
A métrica atual e os métodos utilizados no campo do envelhecimento são limitados,
o que impede uma compreensão sólida sobre os principais aspectos do Envelhecimento
Saudável. É necessário um consenso sobre quais abordagens e métodos
são mais adequados. Estes deverão ser elaborados de diversos campos e permitir
que sejam feitas comparações e, possivelmente, ligações de dados coletados de
diversos países, cenários e setores. As prioridades incluem:
■ Desenvolver e alcançar um consenso sobre métrica, estratégias de medição,
instrumentos, testes e biomarcadores para os principais conceitos relacionados
ao Envelhecimento Saudável, incluindo capacidade funcional, capacidade intrínseca, bem-estar subjetivo, características de saúde, características pessoais,
herança genética, multimorbilidade e a necessidade de serviços e atendimento;
■ Chegar a um consenso sobre abordagens para avaliar e interpretar as trajetórias
dessas métricas e medidas durante o curso da vida. Será importante demonstrar
como as informações geradas podem servir como contribuições para a
política, acompanhamento, avaliação, decisões clínicas ou de saúde pública;
■ Desenvolver e aplicar abordagens melhoradas para testar intervenções
clínicas que levam em consideração a diferente fisiologia de adultos maiores e
multimorbilidade.
O status de saúde e necessidades de populações mais maiores
Embora a pesquisa baseada na população geral e a vigilância precisam colocar
maior ênfase em adultos maiores, a pesquisa baseada em população específica sobre
adultos maiores também é necessária para identificar os níveis e a distribuição
da capacidade funcional e capacidade intrínseca; como elas mudam ao longo do
tempo; e as necessidades de cuidados de saúde, cuidados e apoio, e como estas estão
sendo atendidas. Essa pesquisa poderá incluir:
■ O estabelecimento de pesquisas de população de adultos idosas regulares que
podem refletir em detalhes a capacidade funcional; a capacidade intrínseca;
estados de saúde específicos; a necessidade de cuidados de saúde ou cuidados
de longo prazo ou mudanças ambientais mais amplas e se essas necessidades
estão sendo atendidas;
■ O mapeamento de tendências em capacidade intrínseca e capacidade funcional
em diferentes coortes de nascimento e determinando se a expectativa
maior de vida está associada aos anos adicionais de saúde;
■ A identificação de indicadores e mecanismos para a fiscalização contínua das
trajetórias do Envelhecimento Saudável.
As trajetórias do Envelhecimento Saudável e o
que pode ser feito para melhorá-las
A promoção do Envelhecimento Saudável exigirá uma compreensão muito melhor
de trajetórias comuns da capacidade intrínseca e da capacidade funcional, seus
determinantes e a eficácia das intervenções para modificá-las. As principais ações
a serem tomadas para alcançar esse objetivo incluem:
■ Identificar o alcance e os tipos de trajetórias da capacidade intrínseca e da
capacidade funcional e seus determinantes em diferentes populações;
■ Quantificar o impacto dos cuidados com a saúde, cuidado de longo prazo e
intervenções ambientais nas trajetórias do Envelhecimento Saudável e identificar
os caminhos pelos quais operam; Melhor quantificar a contribuição econômica dos adultos maiores e os custos
da prestação dos serviços de que necessitam para o Envelhecimento Saudável
e desenvolver maneiras rigorosas, válidas e comparáveis de análise de retorno
sobre os investimentos.
25
Resumo
Conclusão
Uma ação de saúde pública abrangente relacionada ao envelhecimento é uma
necessidade urgente e algo pode ser feito em todos os cenários, não importa o nível
de desenvolvimento socioeconômico.
Este relatório descreve um quadro de saúde pública para a ação que é construída
sobre o conceito de Envelhecimento Saudável. Esta resposta social ao envelhecimento
da população exigirá uma transformação dos sistemas de saúde longe dos
modelos curativos baseados em doença e para a prestação de cuidados integral e centrados
em adultos idosos. Exigirá o desenvolvimento, às vezes do zero, de sistemas
abrangentes de cuidados de longo prazo. Também exigirá uma resposta coordenada
de outros diversos setores e múltiplos níveis de governo. Deve ser construído sobre
uma mudança fundamental em nossa compreensão sobre o envelhecimento para
uma que tenha em conta a diversidade das populações idosas e responda às desigualdades
que muitas vezes estão subjacentes. E exigirá recorrer a melhores formas
de medir e monitorar a saúde e o funcionamento das populações mais maiores.
Embora essas ações inevitavelmente exigirão recursos, elas podem ser um bom
investimento no futuro da sociedade: um futuro que proporciona à pessoas maiores
a liberdade de viver vidas que as gerações anteriores podem nunca ter imaginado.
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Uma ação de saúde pública abrangente relacionada ao envelhecimento da população
é uma necessidade urgente. Essa ação exigirá mudanças essenciais, não apenas no que
fazemos, mas em como pensamos sobre o envelhecimento em si. O Relatório mundial
de envelhecimento e saúde delineia um quadro de ação para promover o Envelhecimento
Saudável construído em torno do novo conceito de capacidade funcional. Isso exigirá
uma transformação dos sistemas de saúde, longe dos modelos curativos baseados em
doença e para a prestação de cuidados integrais e centrados em pessoas adultas idosas.
Exigirá o desenvolvimento, às vezes do zero, de sistemas abrangentes de cuidados de
longo prazo. Também exigirá uma resposta coordenada de outros diversos setores e
nos vários níveis de governo. E exigirá recorrer a melhores formas de medir e monitorar
a saúde e o funcionamento das populações idosas.
Essas ações provavelmente constituem um investimento sólido no futuro da sociedade.
Um futuro que proporciona aos pessoas idosas a liberdade de viver vidas que as
gerações anteriores podem nunca ter imaginado.
Acesse a reportagem sobre envelhecimento ativo e gerontolescência:
http://grupodobemestaredafelicidade.blogspot.com.br/2015/03/alexandre-kalache-defende-os-conceitos.html