Desabafo visceral em TERRA EM TRANSE de Glauber Rocha

Desabafo visceral do genial cineasta Glauber Rocha em Terra em Transe, pela boca do personagem Paulo Martins (Jardel Filho): 


                                               Foto: extraída de www.parola.com

 “Não é mais possível esta festa de medalhas, este feliz aparato de glórias, esta esperança dourada nos planaltos. Não é mais possível esta festa de bandeiras com guerra e Cristo na mesma posição! Assim não é possível, a impotência da fé, a ingenuidade da fé. Somos infinita, eternamente filhos das trevas, da inquisição e da conversão! E somos infinita e eternamente filhos do medo, da sangria no corpo do nosso irmão! E não assumimos a nossa violência, não assumimos as nossas ideias, como o ódio dos bárbaros adormecidos que somos. Não assumimos o nosso passado, tolo, raquítico passado, de preguiças e de preces. Uma paisagem, um som sobre almas indolentes. Essas indolentes raças da servidão a Deus e aos senhores. Uma passiva fraqueza típica dos indolentes. Não é possível acreditar que tudo isso seja verdade! Até quando suportaremos? Até quando, além da fé e da esperança, suportaremos? Até quando, além da paciência, do amor, suportaremos? Até quando além da inconsciência do medo, além da nossa infância e da nossa adolescência suportaremos?”

                 foto: extraída de www.naufragodautopia.blogspot.com



Terra em Transe é um dos mais brilhantes filmes políticos de todos os tempos do cinema nacional e internanacional. Realizado em 1967, após o golpe militar de 1964, que jogou o Brasil nos porões da sangrenta e repressiva ditadura, faz uma alegoria das forças presentes no tabuleiro político nacional, através das personagens de Jardel Filho(  o poeta Paulo Martins que representa a classe média contraditória e vacilante que opta pela via revolucionária diante do golpe), José Lewgoy(o político populista a quem a autodenominada esquerda adere para se viabilizar), Paulo Autran(o político da direita obcecado em tomar o poder a qualquer custo, Porfírio Diaz, claramente inspirado em Carlos Lacerda), Paulo Gracindo(o capitalista nacionalista que se alia à multinacional), Glauce Rocha(a militante devotada mas impotente diante do cenário de entreguismo e adesão)